sábado, 1 de fevereiro de 2014

Semana Pedagógica 2014

A semana pedagógica de 2014 traz temáticas e discussões que a APP-Sindicato vem fazendo já há algum tempo.  No último ano, por exemplo, foram realizados dois seminários estaduais em que o tema de discussão foi o Currículo e os sujeitos aprendentes na perspectiva de não desconsiderar aquelas e aqueles que se constituem nosso irredutível pedagógico. Em um artigo publicado no jornal 30 de agosto de julho de 2013 intitulado Reflexões sobre o currículo e suas práticas, fazemos referência as diferentes concepções teóricas sobre currículo, da necessidade da reconstrução da totalidade pedagógica e apontamos caminhos para chegar a isso. Na edição pedagógica atual do jornal 30 de agosto, a partir de construção coletiva feita pelo GT de Currículo, o tema é retomado com uma clara preocupação de explicitarmos a dimensão política do currículo, haja vista que este ano haverá um embate político entre projetos que se darão nos processos eleitorais que viveremos no segundo semestre.

Percebemos naquilo que é proposto para a semana pedagógica de 2014, uma falsa mudança, uma vez que as teorias – materialismo histórico-dialético, concepção histórico cultual de educação e pedagogia histórico-crítica dos conteúdos, e sobre elas temos concordância – não refletem o que tem sido a ação da secretaria junto às(aos) professoras(es) e às(aos) estudantes. Um claro exemplo do que falamos pode ser observado neste exato momento em que o governo insiste em manter a instrução 008/2013 que (des)organiza o ensino de EJA no Paraná, desconsiderando o trabalho de anos dos(as) profissionais de educação, fechando turmas e o que é pior, dificultando o acesso e permanência das e dos estudantes trabalhadores(as). Talvez devêssemos remeter à própria Seed a pergunta que ela faz às professoras e aos professores no segundo dia da semana, ao questionar a postura pedagógica que se tem diante dos sujeitos escolares: qual tem sido a postura que ela assume ao desconsiderar os sujeitos da EJA e invisibilizando-os ainda mais? Em um vídeo a ser apresentado no final do terceiro dia da semana pedagógica, ao conceituar práxis, o professor Gasparin deixa claro que mesmo havendo uma mútua complementariedade, a ação, o fazer humano, é revelador de uma teoria. Toda ação pedagógica traz em si uma teoria precedente, daí a indissociabilidade entre ambas. A ação, o fazer pedagógico da Seed nos parece que não é para a emancipação como querem nos fazer crer em um vídeo logo na abertura da Semana Pedagógica. 

Aguçando ainda mais as incongruências entre teoria e prática, a semana pedagógica inicia bem ao jeito neoliberal, utilizando-se da pedagogia das planilhas e dos resultados, propondo às escolas as análises dos indicadores de qualidade da educação nas dimensões da gestão democrática, prática pedagógica, avaliação e acesso, permanência e sucesso na escola. Após responder a mais de 70 perguntas, as(os) profissionais de educação, são chamadas(os) a comparar índices e prever ações para a melhoria destes mesmo índices com vista ao “sucesso” pedagógico. Observem que toda a discussão sobre os sujeitos e o currículo proposto para o segundo e terceiro dias não entram como elementos de análise, uma vez que o plano de ação já estará pronto ao final do primeiro dia!!

Ao analisarmos a semana como um todo, percebemos que as discussões recaem sobre a ação pedagógica das e dos professores e em muitas situações culpabiliza-os por uma condição que é também social. A ausência quase total de questionamentos sobre o modelo social que produz os sujeitos escolares e o currículo é nítida. Será que a violência mostrada em Escritores da Liberdade é gratuita ou um problema pedagógico simples de não se reconhecer as diferenças entre os sujeitos? Será que a ação da professora no documentário Pro dia nascer feliz pode ser avaliada apenas como um descompasso pedagógico que revela uma postura tradicional? Será que o apartheid mostrado em Sarafina! O som da liberdade não é produto do preconceito racial, da produção histórica das desigualdades de raça e de classe e que persiste em nosso tempo até hoje? Será que as estruturas físicas escolares, como mostrada no final do vídeo Augusto Boal e o Teatro Oprimido não influenciam na forma de aprender e ensinar? 

Sugerimos que se vá além das perguntas propostas pela Seed para a semana pedagógica. Que se contextualize as situações para que sejam vistas em toda a sua complexidade. Que se façam questionamentos mais abrangentes, uma vez que o material visual e as leituras possibilitam isto. O critério de análise não pode ser só o agir pedagógico do(a) professor(a). Devem ser considerados no debate outros elementos, como por exemplo, as condições históricas e materiais de produção da existência dos diferentes grupos sociais que foram feitos desiguais pelo sistema como um todo, a produção da alienação pedagógica imposta por modelos, estruturas e condições de trabalho a que os profissionais da educação estão submetidos. Evidente que existem posturas e práticas pedagógicas que muitos(as) professores(as) e escolas têm, de um certo laissez-faire, que não respeita e invisibiliza os sujeitos e elas precisam solidariamente serem discutidas pela categoria. O problema é ficarmos apenas nelas, desconsiderando aspectos mais amplos. 

Jornal 30 de agosto - Edição Pedagógica - Procure em sua escola ou peça ao Núcleo Sindical o jornal que preparamos para a semana pedagógica. Nele apresentamos uma reflexão sobre a educação como um ato político que se revela na dimensão política do currículo e se expressa no PPP, na organização dos tempos e espaços da escola e na gestão democrática. No final do jornal sugerimos um conjunto de questões que devem ser debatidas pela escola como um todo e remetidas para a secretaria educacional no e-mail educacional@app.com.br.

A leitura poderá ser individual ou em grupos. Podem ser previstos momentos próprios dentro da semana para a discussão do nosso material, como ele pode ser usado concomitantemente ao que é proposto pela Seed, uma vez que há uma confluência entre as temáticas.

Como analisado anteriormente, o caminho proposto pela Seed na discussão dos materiais   imputa ás(aos) professora(ES) a condição de reprodutoras(es) da desigualdade, como se as desigualdades existissem por si só. O que propomos vai além do proposto pela Seed na medida em que explicita o caráter político – e, portanto, histórico e cultural –, da educação. Na perspectiva que apresentamos, não há neutralidade em se ensinar e em se aprender, como também não há a produção de um modus civilizatório que não afete a todos, educandos, professoras, professores, pais, mães, agentes educacionais, governos. Diferentes projetos e concepções são disputados cotidianamente na escola. Uns emancipam. Outros conformam. 

Façam uma boa discussão e tenham todas e todos um bom início de ano letivo.

E não se deixem enganar pelos falsos propósitos daquelas e daqueles que nestes últimos três anos, apenas e tão somente, estão preocupadas e preocupados com a pedagogia das planilhas e resultados e que tem gerado um grande desmonte pedagógico nas escolas do Paraná.
Fonte:http://www.appsindicato.org.br/Include/Paginas/noticia.aspx?id=9704

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